PERFIL DE FATORES DE RISCO CLÍNICO E SOCIODEMOGRÁFICO DE DOENTES RENAIS CRÔNICOS EM TRATAMENTO CONSERVADOR
Bruna Bueno1, Silvana Maia1, Ângela C. Silva Borghi2
RESUMO: Atualmente, a doença renal crônica (DRC) é considerada um problema de saúde pública por causa das suas altas taxas de incidência. Seus principais fatores de risco são a hipertensão arterial e diabetes mellitus. As pessoas com DRC com aderência ao tratamento conservador possibilitam uma melhor manutenção da Taxa de filtração Glomerular (TFG). Têm-se como objetivo neste estudo: caracterizar a população usuária de um serviço ambulatorial de tratamento conservador para doença renal crônica, em relação às variáveis de fatores de risco clínicos e sociodemográficos, num período retrospectivo de doze meses. Implementou-se pesquisa documental com 1.098 pacientes do ambulatório de nefrologia da cidade de Curitiba/ Pr, no período de janeiro á dezembro de 2010. Os dados foram coletados de março a abril de 2011. Constatou-se que o perfil dos pacientes é formado por uma discreta predominância de: mulheres, acima de 60 anos, baixas escolaridade e renda familiar. Predominantemente de Curitiba e região metropolitana, com registros de alta prevalência de tabagistas e etilistas. Quanto ao perfil clínico a doença primária de maior relevância é a hipertensão arterial sistêmica, seguida do diabetes mellitus. Conclui-se que conhecer o perfil dos usuários possa contribuir na elaboração de ações preventivas e assertivas na preservação da TFG.
Palavras-chave: Enfermagem, Nefrologia, Terapia Preventiva, Perfil Epidemiológico, Cuidados de Enfermagem.
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ABSTRACT: Currently, chronic kidney disease (CKD) is considered a public health problem because of their high incidence rates. Its main risk factors are hypertension and diabetes mellitus. People with CKD with adherence to conservative treatment allow a better maintenance of glomerular filtration rate (GFR). There have been aimed in this study to characterize the user population of an outpatient clinic of conservative therapy for chronic kidney disease, as the variables of clinical risk factors and sociodemographic factors, a retrospective period of twelve months. Documentary research was implemented with 1.098 patients in the nephrology clinic in Curitiba/ PR, from January to December 2010. Data were collected from March to April 2011. It was found that the patients' profile is formed by a slight predominance of: female, over 60 years, low education, low family income. Predominantly of Curitiba and metropolitan region, with records of high prevalence of smoking alcoholics. Regarding the clinical profile of the primary disease is more relevant to hypertension, followed by diabetes mellitus. It is concluded that knowing the profile of users can contribute to the development of assertive action in the preservation of GFR.
Keywords: Nursing, Nephrology, Preventive Care, Epidemiologic Profile, Nursing Care.
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1 Acadêmicas do curso de Enfermagem das Faculdades Integradas do Brasil (Curitiba, PR); 2 Enfermeira, Mestre em Enfermagem. Professora do curso de Graduação das Faculdades Integradas do Brasil (Curitiba/ PR). Endereço para correspondência: Bruna Bueno: Bruna_bueno86@yahoo.com.br; Silvana Maia: Sylvane.maier@gmail.com.
INTRODUÇÃO
A doença renal crônica (DRC) é uma síndrome clínica caracterizada pela perda lenta e irreversível da função renal. Segundo os guias norte americanos de conduta em aspectos da DRC (NKF/DOQI – National Kidney Foundation / Clinical Practices Guidelines for Chronic Kidney Disease), a DRC caracteriza-se pela presença de dano renal ou redução da função renal por um período igual ou superior a três meses, independente de sua etiologia1,2. No Brasil, estima-se que cerca de 1,4 milhões de indivíduos apresentem algum grau de disfunção renal. 3,4 Entende-se que a implementação de projetos de promoção da saúde e de prevenção de doenças, possa contribuir de maneira efetiva para a redução da DRC, visto que frequentemente é provocada por doenças crônicas primárias, principalmente a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e Diabetes Mellitus (DM).
A DRC vem adquirindo significado especial e atenção dos programas governamentais no sentido de que esforços sejam direcionados para a identificação e tratamento precoce sejam implementados, no sentido de reduzir os danos ao indivíduo e sociedade e os custos do tratamento substitutivo da função renal. O antigo ditado de que “Prevenir é melhor que remediar”, faz-se presente quando tratamos da DRC. Os custos da terapia renal substitutiva, oneram os cofres públicos destinando uma parcela significativa dos recursos da saúde para tratamento de uma parcela da população, quando a melhor alternativa seria evitar a entrada destes indivíduos nesta fase da doença, em que não existem maneiras de conciliar a vida sem o tratamento substitutivo renal.
Dentre as medidas preventivas implementadas no Brasil nos últimos anos, incluem-se os ambulatórios para tratamento conservador da DRC, que contribuem para a redução da progressão da doença, incidindo em redução de custos elevados com diálise de urgência por encaminhamento tardio ou falta de conhecimento da doença por parte da população. Nesses ambulatórios, defende-se um programa educacional implementado por uma equipe multiprofissional (médico nefrologista, enfermeiro nefrologista, nutricionista, assistente social e psicólogo), voltada para o atendimento integral ao cliente, com vistas a minimizar o desconhecimento da população a respeito da doença renal, propiciando a adesão ao tratamento. 5 Para sistematizar o atendimento nos ambulatórios, faz-se necessária a estratificação da DRC, realizada de modo que o diagnóstico seja estabelecido de acordo com a fase em que a doença se encontra. 6 A educação do paciente renal é um importante compromisso e deve ser muito bem desenvolvido pelo enfermeiro, ele deve fazer com que o paciente consiga entender o que esta sendo repassado a ele, para que com isso os pacientes assumam os cuidados e controles do seu tratamento, também é necessário que o enfermeiro identifique as necessidades e dificuldades apresentadas pelos mesmos, o trabalho do enfermeiro deve auxiliá-los a se sentirem responsáveis e capazes de cuidarem de si mesmos.
O enfermeiro é muito influenciável sobre os pacientes e seus familiares, por isso consegue orientá-lo quanto à importância de praticar o auto-cuidado, o empenho do enfermeiro no ambulatório de nefrologia fará com que melhore condição clinica e psicologia desse doente.. Deste modo, faz-se necessário o estabelecimento de critérios que possam dar suporte ao diagnóstico e terapêutica para cada uma destas fases, determinados fundamentalmente pela Taxa de Filtração Glomerular (TFG).
O reconhecimento da necessidade de se identificar e tratar a DRC precocemente fez com que, em 2002, fossem desenvolvidas diretrizes para o tratamento, conforme classificação em 5 diferentes estágios de estadiamento da doença e para o respectivo tratamento6. De acordo com esta classificação, foram determinadas as seguintes diretrizes: Estágio 0: > 90 TFG, grupos de risco para DRC com função renal normal. É nesta fase que existe alguma possibilidade de se impedir que o paciente desenvolva a DRC. Assim, é importante que os pacientes considerados de risco para desenvolverem DRC sejam identificados, avaliados e tratados. São eles: hipertensos, diabéticos e familiares de portadores de DRC. Estágio 1: > 90 TFG, lesão renal com função renal normal. Corresponde a fase na qual a TFG ainda está normal, mas o paciente apresenta algum marcador de comprometimento da função renal (por exemplo: proteinúria). Nesta fase, se instituído o tratamento adequado, o benefício é enorme. Certamente ocorrerá retardo significativo da progressão da doença, podendo até mesmo não haver progressão. Estágio 2: 60 – 89 TFG, discreto comprometimento da função renal, ocorre perda da função renal. Não há sintomas clínicos e a maioria dos exames laboratoriais ainda está normal.
O tratamento adequado pode retardar significativamente a evolução da DRC. Estágio 3: 30 – 59 TFG, DRC moderada com alteração laboratorial. Os sinais e sintomas da uremia praticamente inexistem, e as alterações laboratoriais são mais acentuadas. O tratamento adequado diminui o ritmo de progressão da doença e evita as complicações da uremia. Estágio 4: 15 – 29 TFG, DRC avançada podendo existir sintomas clínicos se o paciente está sendo acompanhado adequadamente, ainda nesta fase ele se apresenta assintomático e a progressão também pode ser retardada.
Entretanto, se não é acompanhado, nesse estágio ele apresentará sinais e sintomas de DRC. Os exames laboratoriais também se encontram significativamente alterados. Estágio 5: < 15 TFG, DRC terminal ou dialítica. O paciente é sintomático se não está sendo acompanhado e, mesmo quando se encontra em acompanhamento terapêutico, poderá apresentar sintomatologia que implicará na indicação do início da terapia renal substitutiva (TRS). Os exames laboratoriais apresentam alterações acentuadas 6 . A diminuição progressiva da função renal leva fatalmente à uremia. Na maioria dos pacientes, a sintomatologia urêmica torna-se evidente quando a TFG atinge 15-20 ml/min/1,73m. 2
Os principais sinais e sintomas descritos são: fraqueza, fadiga, confusão mental, cefaléia, prurido, edema, hálito de amônia (“hálito urêmico”), náusea, vômito, anorexia, constipação, diarréia, anemia, infertilidade, cãibras musculares, osteodistrofia renal, entre outros. A intensidade destes na DRC depende do grau de comprometimento renal e de outras condições subjacentes, bem como a idade da pessoa. Nas fases iniciais, ocorre adaptação do organismo e o paciente apresenta-se assintomático, porém nas fases mais tardias os sintomas são intensos e persistentes. A realização do diagnóstico da DRC precocemente, ou seja, quando os rins ainda preservam parcialmente suas funções, e a realização do tratamento conservador podem contribuir para uma melhor condição clínica, psicológica e social do paciente.
O conhecimento sobre a doença renal crônica e as possibilidades de tratamento, se utilizados nas ações educativas aos indivíduos acometidos pelo agravo, pode repercutir em modificações comportamentais principalmente no que se refere aos cuidados do indivíduo consigo mesmo e conseqüente retardo na evolução da doença. Diante do exposto, têm-se como objetivo neste estudo: caracterizar a população usuária de um serviço ambulatorial de tratamento conservador para doença renal crônica, em relação às variáveis de fatores de risco clínicos e sociodemográficos, num período retrospectivo de doze meses.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de estudo descritivo exploratório, com método quantitativo de recorte transversal. O local do estudo compreende uma instituição filantrópica voltada à assistência, pesquisa e tratamento da doença renal crônica, na cidade de Curitiba, Paraná, que presta serviços a aproximadamente 1.000 indivíduos com doença renal crônica, nas diferentes fases evolutivas de declínio da função renal. O estudo foi desenvolvido no ambulatório de nefrologia, especificamente no que se refere ao atendimento dos pacientes em tratamento conservador, ou seja, fora de terapia dialítica. O serviço atende pacientes encaminhados das Unidades Municipais de Saúde de Curitiba e de outros municípios, por meio de guias e códigos de transação vigente. Além da nefrologia geral, também atende público específico, com agravos como litíase renal, osteodistrofia renal e glomerulopatias. Estes pacientes encontram-se divididos em categorias diferentes de atendimento, sendo elas, prevenção da doença renal crônica ou tratamento conservador, consultas do período pré-transplante renal e consultas para avaliação dos vasos sanguíneos para confecção de acesso vascular para hemodiálise ou fístula arteriovenosa (FAV). Para constituição da amostra dos pacientes, foram estabelecidos como critérios de inclusão para o estudo: ter doença renal crônica e ter sido cadastrado no serviço para tratamento conservador no período retrospectivo de 12 meses, sendo de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2010.
O período de coleta de dados foi de março a abril de 2011. Foram coletados dados secundários, que se encontram armazenados em banco de dados informatizado na rede de computadores da instituição. Utilizou-se instrumento elaborado pelos pesquisadores contendo questões fechadas, para detecção das variáveis clínicas e sociodemográficas, e dos dados de identificação dos participantes do estudo, totalizando 1098 pacientes. Para a realização da pesquisa foi solicitada autorização dos representantes legais da instituição, momento em que foram esclarecidos os objetivos do estudo e o compromisso em se manter o anonimato dos dados dos pacientes e da identificação da instituição.
Os responsáveis legais da instituição foram devidamente esclarecidos quanto aos objetivos do estudo, ao destino dos dados coletados antes de iniciarem sua participação no projeto, tanto quanto do direito de desistirem a qualquer momento, sem que isso implicasse em nenhum dano. Foram respeitados os preceitos éticos de participação voluntária, esclarecida e concedida segundo Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). A seguir o projeto foi encaminhado ao Comitê de ética setorial das Faculdades Integradas do Brasil e aprovado sob o numero de protocolo 069/2011.
Por tratarem-se de dados secundários obtidos a partir de consultas ao prontuário informatizado, entende-se que não foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). RESULTADOS: Apresentam-se abaixo os resultados do estudo distribuídos em tabelas. As discussões serão realizadas no próximo capítulo. Destaca-se que os porcentuais foram calculados considerando-se o nº total de pacientes da amostra, ou seja, 1098 pacientes. As distribuições foram efetuadas em números absolutos e relativos.
TABELA 1: Distribuição das variáveis sociodemográficas dos pacientes do ambulatório de nefrologia no ano de 2010. Curitiba – 2011. Variáveis Nº.= 1098 % Estado Civil Casado Desquitado Divorciado Solteiro Viúvo Outro 658 13 53 168 175 31 60 1 5 15 16 3 Sexo Feminino Masculino 627 471 57 43 Cidade Curitiba Região Metropolitana Outras 592 386 120 54 35 11 Faixa Etária Menor de 19 anos 20 a 39 anos 40 a 59 anos 60 a 79 anos 80 anos ou mais 8 156 397 469 68 1 14 36 43 6 *Os porcentuais calculados para as variáveis foram elaborados conforme o nº. total de paciente, ou seja, 1098. Fonte: pesquisa das autoras, Curitiba 2011.
TABELA 2: Distribuição das variáveis socioeconômicas dos pacientes do ambulatório de nefrologia no ano de 2010. Curitiba – 2011. Variáveis Nº= 1098 % Atividade Laborativa Ativo Aposentado Desempregado Beneficio INSS Do lar Estudante Não informado 357 388 91 103 144 11 4 33 36 8 9 13 1 0 Renda Média Menor 1 SM 1 a 3 SM 4 a 5 SM 6 a 8 SM 9 a 10 SM Maior de 10 SM Não informado 45 852 149 27 1 9 15 4 78 14 2 0 1 1 Escolaridade Não alfabetizado 1º Grau completo 1º Grau incompleto 2º Grau incompleto 2º Grau completo Superior Completo Superior Incompleto Não informado 187 119 548 38 133 48 0 25 17 11 51 3 12 4 0 25 *Os porcentuais calculados para as variáveis foram elaborados conforme o nº. total de paciente, ou seja, 1098. Fonte: pesquisa das autoras, Curitiba 2011.
TABELA 3: Distribuição das variáveis de hábitos de vida dos pacientes do ambulatório de nefrologia no ano de 2010. Curitiba – 2011. Variáveis Nº.=1098 % Etilista Não Sim Ex-etilista Não informado 909 134 48 7 83 12 4 1 Tabagista Não Sim Ex-tabagista Não informado 747 162 182 7 67 15 17 1 Tempo de Consumo Etílico Zero Até 5 anos 6 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos Mais de 30 anos Não Informado 906 1 0 3 2 4 182 83 0 0 0 0 0 17 Tempo de Consumo de Tabaco Zero Até 5 anos 6 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos Mais de 30 anos Não Informado 732 6 9 39 34 71 207 66 1 1 4 3 6 19 *Os porcentuais calculados para as variáveis foram elaborados conforme o nº. total de paciente, ou seja, 1098. Fonte: pesquisa das autoras, Curitiba 2011.
TABELA 4: Distribuição das variáveis de dados clínicos dos fatores de risco dos pacientes do ambulatório de nefrologia no ano de 2010. Curitiba – 2011. Variáveis Nº.= 1098 % Hipertensão Diabetes Hipertensão e Diabetes Não informado 509 27 336 226 46 2 31 21 *Os porcentuais calculados para as variáveis foram elaborados conforme o nº. total de paciente, ou seja, 1098. Fonte: pesquisa das autoras, Curitiba 2011.
TABELA 5: Distribuição das variáveis de dados clínicos dos fatores de risco associados para DRC, dos pacientes do ambulatório de nefrologia no ano de 2010. Curitiba – 2011. Variáveis Nº.= 536 % Uro ou nefrolitíase 151 23 Cardiopatias 109 20 Doença policística 91 17 Obesidade 54 10 Rim único 44 8 Cisto renal 22 4 Doenças da próstata 18 3 Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica 11 2 Lúpus Eritematoso Sistêmico 10 2 Neoplasias 10 2 Bexiga neurogênica 6 1 Hidronefrose 6 1 Gestantes 4 1 * Os porcentuais foram calculados de acordo com o nº total para a categoria, calculado em 536. Para os outros 562 participantes esta questão não foi registrada no prontuário. Fonte: pesquisa das autoras, Curitiba 2011
DISCUSSÕES
De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, destacam-se os referentes ao estado civil, cuja maior prevalência foi de pacientes casados, 658 (60%) dos selecionados para a amostra. A elevada proporção de indivíduos casados pode estar associada à presença de faixas etárias mais avançadas na amostra, pois o fato de ter um cônjuge, proporciona maior apoio social e conseqüentemente reflete na busca aos serviços de saúde. 7 O apoio familiar é fundamental para a adaptação do doente às novas orientações e modificações do estilo de vida, dentre elas a restrição hídrica e alimentar, ingestão de medicamentos, abandono do tabagismo, sedentarismo, etc. Neste sentido, ter um companheiro para dividir as dificuldades vivenciadas pode auxiliar na adesão terapêutica. No que se refere ao gênero, observa-se a discreta predominância de mulheres, representando 627 (57%). Sabe-se que as mulheres brasileiras, culturalmente buscam por atendimento em saúde diferentemente dos homens que tendem a só buscar atendimento quando da instalação da doença, fato justificado pela presença de mais homens que mulheres nos centros de diálise. Estes dados diferem dos obtidos em outros estudos que avaliaram o perfil do doente renal, em que 60% eram homens e 40% mulheres, indicando a prevalência da DRC em homens. Infere-se que estudos de maior abrangência e seguimento com esta população específica de DRC em tratamento conservador, possam indicar a justificativa destas diferenças. 8,9 Observa-se que os pacientes de Curitiba somam 592 (54%), região metropolitana 386 (35%).
Curitiba é um centro de referência para tratamento da DRC, recebendo encaminhamento de pacientes residentes em cidades próximas, sem acesso a tratamento na cidade de origem e atuando como centro pioneiro no Brasil neste tipo de assistência preventiva. Referente às faixas etárias dos selecionados para investigação, a proporção de maior significado foi de 60 a 79 anos, com 469 (43%) dos investigados, seguidos por 397 (36%) dos inseridos na faixa etária de 40 a 59 anos. A média de idade foi de 57,3 anos. À semelhança de outros estudos brasileiros. houve um número expressivo de pacientes na faixa de 50 a 60 anos ou mais, indicando que as doenças crônicas degenerativas acompanham o aumento da expectativa de vida da população. Este dado aponta a necessidade de estratégias de educação em saúde e novas formas de abordagem dos pacientes hipertensos e diabéticos, para reduzir o impacto da morbidade e a mortalidade relacionada à doença renal crônica e suas complicações. 10 No que se refere à Tabela 2 com as informações sobre as variáveis socioeconômicas, a maioria dos atendimentos são de pacientes aposentados, totalizando 388 (36%), justificados quando associados aos indivíduos idosos, maioria da amostra.
Considerando a atividade laborativa, 357 (33%) declararam-se ativos. Entende-se que manter-se em atividade produtiva laboral, colabora para a manutenção dos papeis sociais, tanto quanto da autoestima, além de fornecer melhoria nas condições de renda. Ainda, para aqueles aposentados, que já desenvolveram atividades laborais por longos períodos em sua vida, poder contar com renda fixa em períodos como a velhice, garante possibilidades de seguir o tratamento sem outras preocupações maiores. A dificuldade para o exercício de atividades remuneradas inclui idade avançada, baixa capacidade funcional e tempo despendido no tratamento. 11 Porém no tratamento conservador, em que as exigências não dispendem tempo integral dos pacientes, alguns, de acordo com o seu estado clínico apresentam capacidade de desempenhar as suas atividades laborativas sem que ocorram prejuízos no decorrer do tratamento.
Quanto à escolaridade, os dados indicam que 735 (68%) dos DRC, possuem grau de escolaridade baixo, concentrando-se no 1º grau incompleto ou analfabeto. Observa-se ainda que 548 (51%) desta população têm escolaridade de ensino fundamental incompleto. Estas informações ganham significado a partir de que conhecimentos básicos são necessários para a compreensão e adequação das terapêuticas indicadas para manutenção da saúde. Neste sentido, torna-se importante reavaliar as atividades educativas e as diferentes formas de ensinar e aprender desta população. As razões, provavelmente estão relacionadas à interação entre fatores socioculturais, genéticos e ambientais. Quanto à renda familiar média, registraram-se predominância de 1 a 3 salários mínimos totalizando 852 (78%) destes.
Estudos têm demonstrado a relação direta entre o baixo nível socioeconômico e a presença de doenças crônicas. 12,13 É importante destacar que o baixo nível de escolaridade encontrado na amostra pode dificultar a compreensão das orientações preconizadas, repassadas pela equipe de saúde, o que pode comprometer ainda mais o estado de saúde dos pacientes em tratamento. 7 Considerando ainda que a condição de saúde, a atividade laborativa, o grau de escolaridade e a renda familiar, são indicadores importantes que interferem na adesão terapêutica, na implementação das orientações preconizadas e no estímulo ao autocuidado. De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, observa-se que 909 dos pacientes (83%), não são etilistas, sendo que 182 deles (16%) são ou foram etilistas por um período médio de mais de 30 anos.
No que se refere ao tabagismo 747 (67 %) não fazem uso do tabaco. Os tabagistas e ex-tabagistas representam 344 (32%), com um período médio de consumo superior a 30 anos. O tabagismo e o etilismo são relacionados a doenças de base da DRC, como a hipertensão arterial e o diabetes, responsáveis por 66,5% dos casos estudados. Pesquisadores afirmam que o tabagismo, o alcoolismo não demonstraram relações diretas com a DRC; entretanto, estes são fatores geradores de doença de base que contribuem para DRC. 14 Com relação à etiologia, na Tabela 4, observa-se a prevalência da hipertensão como causa primária de maior representatividade da DRC, verificada em 509 (46%) pacientes. Salienta-se o registro de 336 (31%) dos pacientes com hipertensão associada a DM. Observa-se também que 226 (21%) não têm registro de nenhuma destas doenças. Hipertensão Arterial e função renal estão intimamente relacionados, podendo a hipertensão ser tanto a causa como a conseqüência de uma doença renal. Nas formas malignas ou aceleradas, a hipertensão pode determinar um quadro grave de lesão renal. A HAS está presente na maioria das doenças renais, principalmente nas glomerulopatias e na nefropatia diabética. A prevalência de hipertensão, determinada por ocasião da detecção da doença renal, aumenta progressivamente à medida que a função renal vai deteriorando, de tal forma que na fase terminal ou dialítica de DRC a quase totalidade dos nefropatas é hipertensa.15
A hipertensão arterial é uma das principais causas de DRC, a perda crônica ou progressiva da função renal independente de sua etiologia leva á hipertensão de tal modo que virtualmente todos os pacientes com DRC são hipertensos. A redução da pressão arterial, independente da redução ou eliminação de outros fatores de risco, confere proteção renal. Quanto mais agressiva for a doença renal maior deverá ser a redução da pressão. 16 A maior parte dos estudos realizados no Brasil avaliaram a prevalência de pacientes com nefropatia diabética já em tratamento dialítico, isto exclui os pacientes em tratamento conservador e subestima a nefropatia diabética em pacientes com DRC. Cerca de 35% dos pacientes portadores de DM desenvolvem a nefropatia diabética.16 No Brasil e nos EUA, 27% dos pacientes submetidos a terapia renal substitutiva tem como única causa plausível da DRC a hipertensão arterial. Esses dados adquirem ainda maior importância quando a hipertensão está associada ao diabetes mellitus. Hipertensão e Diabetes juntos são responsáveis por 60 a 70% dos casos de DRC. 17 Como fatores de risco associados na Tabela 5, ressalta-se que nem todos os participantes da amostra, tinham este registro no prontuário, portanto a amostra foi de 536 indivíduos. Destaca-se as litíases, urológicas ou renais, registradas para 151 (23%) dos participantes, seguidas das cardiopatias 109 (20%), doença policística 91 (17%) e obesidade 54 (10%), dentre os outros apresentados na tabela. Estas doenças podem levar a DRC se não administradas adequadamente. Ao se considerar a associação de doenças crônicas como DM e HAS, a estas outras citadas, infere-se que a queda da TGF pode ser potencializada e assim levar o paciente mais rapidamente à diálise. CONCLUSÃO Foram identificadas as características sociodemograficas e fatores de risco de 1.098 pacientes, em tratamento conservador para doença renal crônica, atendidos por uma equipe multiprofissional no ambulatório de nefrologia na cidade de Curitiba/ PR.
Conclui-se que o perfil predominante desta amostra é do sexo feminino, estado civil casado, de faixa etária 60 a 79 anos, a grande maioria aposentado, com baixo nível de escolaridade e baixa renda familiar; moradores da cidade de Curitiba. Quanto aos hábitos de vida uma parcela significativa da amostra, é ou foi tabagista e / ou etilista com um período médio de consumo de 30 anos, o que contribui para a deterioração progressiva das funções cardiovasculares e consequentemente da função renal. No que se refere aos fatores de risco associados, o achado significativo foi a obesidade, que em tempos passados não seriam evidenciados nesta população. A HAS, corroborando com os dados de outras pesquisas em populações semelhantes, é identificada como a doença primária de maior prevalência quando evidenciamos risco para desenvolvimento de DRC, agravadas significativamente quando associadas ao DM. Outros fatores de risco potencializam a evolução da DRC e indicam os pontos de alerta para o trabalho da equipe de saúde direcionar os seus esforços. Refletir sobre as ações desenvolvidas no ambulatório de tratamento conservador da DRC, faz-se fundamental para direcionar as ações de acordo com as especificidades desta população.
As diferenças culturais, sociais e etárias devem ser consideradas no planejamento do tratamento conservador, buscando-se a proximidade com o paciente, utilizando estratégias educativas e comunicativas, próximas das condições de compreensão para que este assimile, e consequentemente possa manifestar aderência ao tratamento proposto. Aproveitar todos os momentos da permanência do paciente na instituição, no retorno agendado destes pacientes, faz-se necessário, visto que informar e educar, significa potencializar os recursos individuais de enfrentamento da doença. O espaço do ambulatório, deve acolher e proporcionar acessibilidade aos pacientes às terapias necessárias para a preservação da TFG, utilizando todo o potencial dos profissionais envolvidos no atendimento, tanto quanto da estrutura física do local. Resgatar a participação da família e do paciente, é função dos membros da equipe de saúde, fortalecendo-os e encorajando-os a assumirem o controle do tratamento, tornando-os protagonistas no direcionamento das ações propostas para a preservação da TFG. Reflete-se sobre a necessidade da adesão a terapêutica medicamentosa, a uma alimentação adequada, a importância da prática de exercícios físicos, a manutenção dos níveis pressóricos e glicêmicos, resultados estes, que só poderão ser alcançados quando da conscientização dos pacientes de que modificações nos hábitos de vida são imprescindíveis ao tratamento. No Brasil, os dados epidemiológicos referentes a populações com DRC específicas no atendimento ambulatorial são recentes, praticamente pioneiras, visto que ainda são raros os centros que disponibilizam este tipo de serviço à população.
A construção do perfil desta população faz-se fundamental para que os fatores que interferem no diagnóstico e terapêutica possam ser identificados. Acredita-se que fatores como o regionalismo, visto as diferenças socioculturais e econômicas encontradas em regiões distintas devam ser investigadas e consideradas como potenciais para as abordagens no tratamento conservador. A atuação da equipe multiprofissional nestes serviços, é de fundamental importância, visto a diversidade de problemas encontrados no manejo terapêutico e psicossocial da DRC, em que trabalhar em equipe significa sucesso ou não nos resultados obtidos. Entende-se, portanto que o enfermeiro, peça fundamental que atua como elo de ligação entre os membros da equipe, possa em consonância com o trabalho de todos, utilizar as informações sobre o perfil dos DRC em tratamento conservador, de maneira a otimizar a assistência prestada, utilizando-se dos conhecimentos pertinentes à profissão, como por exemplo, a definição de diagnósticos específicos a esta população e assim programar intervenções direcionadas e assertivas.
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